2.2 - Desenvolvimento ao longo da infância e adolescência
Compreender as mudanças contínuas do ser humano operadas ao longo da vida e descobrir as razões dessas mudanças tem constituído um desafio para a Psicologia, nomeadamente para os psicólogos do desenvolvimento.
Por desenvolvimento entende-se o conjunto de mudanças contínuas no ser humano ao longo da sua existência.
O conceito de desenvolvimento pressupõe assim uma sequência de alterações graduais que levam a uma maior complexidade no interior de um sistema ou organismo. Na evolução por que passa cada indivíduo desenham-se estádios que seguem uma ordem praticamente imutável, mas o tempo de permanência em cada um deles varia conforme o indivíduo.
A psicologia do desenvolvimento é uma área especializada da Psicologia que só amadureceu no século XIX. Até à contemporaneidade, era impossível o aparecimento desta área de investigação, devido aos estereótipos que se mantinham acerca do conceito de criança e da pouca importância que lhe era concedida.
Uns tinham uma visão negativa da infância, encarando a criança como uma espécie de selvagem quase sem humanidade, incluindo-a na mesma categoria em que mantinham os primitivos e os deficientes mentais. Outros consideravam que as crianças tinham uma mente como a dos adultos, sendo a única diferença entre ambos o crescimento e não o desenvolvimento; constituindo a criança como um adulto em miniatura.
Desta forma, o estatuto próprio da criança não era reconhecido, o que tinha reflexos negativos na educação familiar e escolar que lhe exigiam condutas muito próximas das do adulto, sem que ela pudesse comportar-se da forma pretendida.
As grandes mudanças quanto ao modo de encarar a criança deve-se à teoria evolucionista de Darwin, estilhaçadora da fronteira intransponível entre animal e ser humano, abre caminho a uma nova perspectiva em psicologia genericamente apelidada de organicismo por oposição ao maturacionismo.
Maturacionismo: Gesell encabeça a defesa do modelo maturacionista, acreditando que o desenvolvimento se deve fundamentalmente a processos internos de maturação do organismo. Segundo o maturacionismo, as diferenças observadas ao longo do desenvolvimento ocorreriam numa sequência geneticamente determinada, devendo muito pouco às influências ambientais externas.
Mecanicismo: Os psicólogos behavioristas são adeptos de um modelo mecanicista, segundo o qual o organismo humano reage passivamente às imposições do meio externo, que determinam as suas progressivas modificações. Resumidamente, podemos dizer que psicólogos como Watson e Skinner negligenciam qualquer interferência de factores internos associados aos organismo. Reduzindo o organismo ao binómio SàR, acreditam que as diferenças detectadas na evolução do indivíduo se devem exclusivamente às situações do meio.
Organicismo: Os psicólogos que defendem o modelo organicista assumem uma perspectiva interaccionista, em que consideram que o desenvolvimento é um processo dinâmico em que factores maturacionais, genéticos e da experiência externa se combinam no decorrer dos diferentes estádios por que o indivíduo passa ao longo da vida.
O modelo organicista realça o carácter adaptativo do processo de desenvolvimento , uma vez que considera que ao progredir na sequência dos estádios, o organismo dispõe de mecanismos psicológicos diferentes e qualitativamente superiores de intervenção no meio. Essas intervenções, por sua vez, contribuem para reorganizar os mecanismos psicológicos, fazendo com que o indivíduo fique melhor apetrechado para ajustar adequadamente os comportamentos às exigências do meio.