1.3 - Métodos e técnicas em Psicologia
Observação
Na afirmação da nova ciência, a Psicologia define o seu objecto, e estabelece o seu método de trabalho. Os diferentes ramos da psicologia resultam de diferentes modos de abordagem do comportamento humano.
Desde a Introspecção ao método clínico, o estudo da psicologia passa pela observação dos fenómenos psíquicos. A realização da observação isolada do método experimental sucede por, em determinadas ocasiões e por motivos práticos ou deontológicos, não ser possível o recurso ao método experimental.
Contudo é sempre possível estabelecer hipóteses e recorrer a técnicas de observação que permitam a verificação das hipóteses sem passar pela experimentação.
As condições em que essa observação é produzida levam a identificar diferentes formas:
Laboratorial - Produzida em condições controladas
Naturalista - Elaborada no meio natural em que se desenrola a situação
Invocada - Realizada a partir de situações ocasionais e em que as condições não são controladas nem previstas
A Observação Laboratorial é utilizada ao nível do método experimental. A realização da experiência em condições controladas, num laboratório, leva a que a situação observada seja uma situação artificial.
Esta observação implica uma sistematização prévia em que se define o que se pretende observar, com a construção de grelhas de registo. Para além da observação directa temos ainda outros instrumentos de observação como as entrevistas, questionários e testes.
Em todo o caso o sujeito observado tem consciência dessa observação o que pode condicionar o seu comportamento. Numa tentativa de eliminar esse condicionamento o observador recorre a meios técnicos (espelhos de uma via, câmaras de vídeo) para poder observar sem ser notado.
A vantagem deste tipo de observação é o seu rigor pois permite a presença de observadores independentes que anotam todo o tipo de comportamento de uma forma descritiva para posterior análise. Contudo ao ser produzida em condições experimentais fica limitada.
A Observação Naturalista (ou ecológica) é defendida pelo método clínico, fundamentando-se na necessidade de observar as condições reais de uma situação. Ao observador eram colocadas duas alternativas:
Dissimulado, de modo a não ser notada a sua presença, permanecia exterior à situação. Para tal era necessária a colocação de meios técnicos no local da observação, facto que não sendo de realização imediata poderia igualmente alterar a situação.
Participava na situação sem o estatuto de observador, sendo este o único modo em que não necessitamos de controlar as condições da experiência. É a estratégia utilizada por Piaget no estudo de crianças, mas em que a observação por estar ligada à interpretação.
Esta técnica de observação tem um grau de objectividade menor, especialmente a última estratégia, permite pelo contrário o estudo nas condições reais de uma situação sendo ainda extremamente prática.
Introspecção
A Introspecção no sentido restrito da palavra propõe o conhecimento das emoções através da observação interna e reflexão por parte do próprio sujeito. O indivíduo é ao mesmo tempo sujeito do conhecimento e objecto de estudo num processo de auto-observação.
A Introspecção controlada implica a presença de observadores externos e estruturação da descrição das emoções.
É defendido pela corrente associacionista de modo a permitir o estudo das emoções e estados da consciência de uma forma sistemática: orienta-se para o estudo do consciente.
Etapas da introspecção controlada:
1. Apresentação de pequenos estímulos visuais ou auditivos a um conjunto de observadores treinados.
2. Os sujeitos descrevem as suas emoções recorrendo a termos predefinidos.
3. Os dados eram depois relacionados e interpretados por uma equipa de psicólogos
Este método foi desvalorizado por não conseguir evitar o subjectivismo:
Observação é retrospecção - O conhecimento das emoções é feito depois de elas terem acontecido. A observação de um facto é distinto da sua vivência o que levaria a uma separação do ser humano em dois: o que sente e o que pensa.
Objectividade nas emoções - ao relatarmos as nossas emoções temos a tendência de eliminar as emoções não aceites socialmente acabando por as modificar
Controlo exterior - Não existe garantia de que as emoções expressas sejam reais pelo que a investigação ficaria limitada.
Racionalização - O sujeito tende a explicar as suas emoções mais fortes e desconexas, apresentando as suas emoções de uma forma controlada e dentro de um sistema lógico.
Linguagem e expressão de emoções - Expressar as emoções verbalmente representa inúmeras dificuldades, o que não está ao alcance de crianças, deficientes mentais, limitando assim a sua utilização.
Limites de aplicação - Não se aplica a fenómenos inconscientes, aos factos de natureza fisiológica.
Apesar destas limitações este método permite o estudo dos pensamentos e uma tomada de consciência dos actos pelo que se continua a utilizar, embora em contextos diferentes dos propostos por Wundt.
Método Experimental
O Método Experimental baseia-se no método científico comum à maioria das ciências. É defendido pelo Behaviorismo mas utilizado por outras correntes de psicologia. O seu objectivo é permitir conhecimentos sobre comportamentos comuns a um grupo de pessoas.
Fases do método
1. Hipótese Prévia - Estabelecimento de uma relação causa-efeito explicativa de uma situação. Pretende relacionar a presença de um facto (situação) com a modificação de outro (comportamento).
2. Experimentação - Fase de verificação da hipótese. Nesta fase é determinante o rigor das observações e controlo da situação experimental:
A. Controlo de variáveis - Elementos que constituem a situação de estudo relativamente à alteração ou manifestação de um comportamento cuja natureza se desconhece. O objectivo desta fase é comprovar se o efeito que a variáveis independentes provocam na variável dependente é aquele que se supusera na hipótese.
- Dependente - Elemento que constitui a modificação do comportamento a explicar surgindo como a variável de resposta, consequência da variável independente.
- Independente - São os factores supostamente responsáveis pela situação e que vamos manipular e controlar para verificar a variável dependente. Aparecem ligadas à situação ou à personalidade.
- Externas - Elementos de uma experiência que não são controláveis ou sucedem inesperadamente mas que podem influenciar uma experiência, podendo-se estudar essas condicionantes relativamente a:
1. Ao sujeito - Atitudes e expectativas do sujeito observado ( Efeito de Hawthorne = A atenção prestada ao trabalho de um sujeito aumenta o seu desempenho mesmo sob condições adversas)
2. Ao observador - Atitudes, expectativas, estatuto, credibilidade e personalidade do observador (o psicólogo pode colocar o indivíduo à vontade ou provocar um grau de tensão)
3. Às condições - As condições ambientais devem ser iguais relativamente aos sujeitos observados: local, hora do dia ...
B. Registo de observações - Para garantir o rigor das observações e permitir a análise dos dados por investigadores independentes
Registos de ocorrências e duração de comportamentos
Escalas de classificação - Níveis de frequência de um facto
C. Controlo de condições - Validação da informação
Grupo Experimental - Grupo de sujeitos onde é testada uma variável independente sendo que as restantes condições e constituição devem ser iguais ao grupo de controlo para permitirem a comparação de resultados.
Grupo de controlo ou testemunha - Grupo de sujeitos em que as condições da experiência são mantidas inalteráveis, garantindo assim os dados resultantes da observação do grupo experimental
Amostra - Conjunto de indivíduos onde decorre a experimentação, sendo constituído a partir da segmentação do universo a estudar. A amostra deve ser significativa e representativa da população a estudar.
a. Amostragem simples (aleatória) - Quando a população a estudar é homogénea todos os seus membros possuem condições iguais para o estudo pelo que são escolhidos ao acaso.
b. Amostragem estratificada - Quando a população a estudar é heterogénea os diversos grupos devem estar representados pelo que é necessário seleccionar a amostra, recorrendo-se aqui a técnicas da estatística.
Trabalho de Campo - Verificação da hipótese em situação real
Generalização - Estabelecimento das conclusões pela generalização dos dados da amostra para o universo a estudar.
Apesar de toda a preocupação no controlo da experiência determinados erros podem surgir nas diversas fases:
Planificação - Possibilidade de erros na elaboração da amostra, na selecção das variáveis e no controle experimental.
Isolamento de variáveis - Determinadas elementos terão uma reacção diferente a um conjunto de variáveis presentes ao mesmo tempo e não a cada uma individualmente
Generalização - A amostra pode ser insuficiente ou demasiado selectiva.
A estes há ainda a acrescentar os problemas éticos na produção de condições experimentais (lesões físicas ou mentais por exemplo) o que leva ao recurso à experiência em animais (hoje igualmente alvo de contestação social) e à experiência invocada:
A Experiência Invocada é realizada aproveitando as circunstâncias acidentais de um fenómeno, constituindo um estudo paralelo de factos que só costumam serem observados em laboratório pelo seu carácter excepcional. É assim que a existência de catástrofes ou guerras permitem o estudo real de situações daí resultantes. por outro lado questões éticas impedem a produção de determinadas experiências (separar gémeos para analisar o seu desenvolvimento, provocar lesões cerebrais, etc.), restando por isso o aproveitamento de acontecimentos fortuitos. Esta foi a técnica mais utilizada para o estudo do cérebro mesmo ainda antes da existência de aparelhos modernos.
Método Clínico
Não é um método de pesquisa nem pretende descobrir leis do comportamento mas constitui-se como uma série de procedimentos de diagnóstico e tratamento de pessoas com problemas de comportamento e /ou emocionais.
Deste modo o estudo desenvolve-se sobre um único indivíduo ao longo de determinadas fases:
Anamnese - Levantamento da história individual do paciente, recorrendo a fontes externas e trazendo à memória informações perdidas. Esta fase permite elaborar algumas hipóteses de trabalho que vão condicionar a fase seguinte
Entrevista - Colocação de questões ao paciente na tentativa de seleccionar hipóteses a partir das suas respostas verbais e não-verbais (gestos, reacções, etc.)
Observação - Estudo dos comportamentos do paciente no seu ambiente natural de modo a confirmar a hipótese seleccionada
Testes - Realização de testes de personalidade (do tipo projectivo) de modo a certificar as conclusões. Note-se que estes testes podem ser igualmente utilizados no início do processo de modo a fornecer informações.
A partir da confirmação da hipótese deduz-se qual o tratamento a desenvolver.
Encontramos a aplicação deste método em Piaget e em Kohler.
Método Psicanalítico
Com o objectivo de conhecer o inconsciente Freud Estabelece um conjunto de procedimentos que nos podem fornecer informações sobre o inconsciente do paciente, responsável pelos seus distúrbios.
Hipnose - Induzir o paciente, através de uma sugestão intensa, num estado semelhante ao sono mas no qual é possível estabelecer a comunicação com o hipnotizador e ser sugestionado, podendo assim revelar memórias ocultas ou ser condicionado para determinada acção ou comportamento.
Interpretação dos sonhos - Os sonhos apresentam imagens figurativas de recalcamentos, ansiedades e medos, que depois de interpretados vão permitir ao psicanalista confirmar os resultados das suas investigações sobre problemas de comportamento apresentados pelo paciente. É o meio de exploração mais seguro dos processos psíquicos pelo que acaba por abandonar a técnica da hipnose.
Actos falhados - fenómenos ligados a lapsos de linguagem, de escrita, esquecimentos momentâneos de palavras. São acidentes de carácter insignificante e de curta duração.
Transferência - Transferência inconsciente para a figura do psicanalista de sentimentos de ternura ou de hostilidade (transferência positiva ou negativa) actualizando situações reprimidas e esquecidas para que o psicanalista possa detectar as razões do conflito inconsciente. É um processo de catarse, descarga psíquica, restabelecendo a relação entre a emoção e o objecto que inicialmente a despertou.
Inquéritos e entrevistas
Não-directivos - não controlados.
Semi-directivos - com algum controlo.
Directivos - controlados ao nível das questões e respostas.